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Diego Leonardo Santana Silva
Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: [email protected]

Imagine a seguinte situação. Uma mulher está em uma fila de embarque de um aeroporto. Ela está conversando com uma comissária de bordo sobre a entrada ou não de um canguru no avião. O animal está segurando um papel em sua mão enquanto aguarda o desfecho. Essa situação se popularizou em um vídeo produzido por inteligência artificial (IA) e difundido nas redes sociais. Muitos usuários se questionaram se a situação era real. Já neste texto, adotamos outro questionamento. Afinal, qual o limite para o uso de vídeos produzidos por IA, e como poderemos identificar e diferenciar o que estamos consumindo?
Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas por vídeos bastante curiosos. Neles, são expressas situações que vão desde histórias bíblicas até fatos históricos como a chegada dos portugueses ao Brasil, sendo retratadas de maneira humorada… imaginam como seriam esses se na época desses acontecimentos existissem as tecnologias e a comunicação que temos hoje. Em outras produções, personagens criados por IA questionam sua existência enquanto influenciadores fazem jogos para que quem os assiste adivinhe o que é gerado ou não por IA.
Este boom na produção deste tipo de conteúdo teve como estopim a apresentação da nova IA do Google para produção de vídeos, o Veo 3. Essa IA possibilita que os usuários criem vídeos a partir de comandos. Para isso, basta escrever o que deseja que exista no vídeo: o cenário, as personagens, as falas e demais elementos são gerados, depois basta revisar a ajustar para deixar da maneira que o produtor de conteúdo deseja. Essa ferramenta com imenso potencial criado pela gigante da tecnologia, nos leva a uma reflexão: afinal, quais seriam os limites éticos e como lidar com as potencialidades desta ferramenta?
Devemos levar em consideração que quando nos referimos ao potencial de uso temos um campo variável. Por um lado, há produtores de conteúdo que o fazem em prol do entretenimento, da informação, da educação, do bom humor que podem recorrer a uma ferramenta que, através de uma linguagem digital comum e ível, potencialize sua atuação. Dessa maneira, essa IA acaba sendo um recurso extraordinário com uma aplicabilidade de entretenimento e educacional ampla. Professores podem produzir recursos didáticos através disso. Já imaginou a aplicabilidade desta ferramenta em sala de aula como complemento da aula do professor?
Por outro lado, o uso deste tipo de recurso na produção e na difusão de notícias falsas pode acarretar sérios problemas. De fato, nos últimos anos, notícias falsas se espalharam e prejudicaram a vida de muitas pessoas. Esse processo de desinformação em massa acabou se tornando um ponto de preocupação. Por essa razão, o mau uso de recursos como o Veo 3 pode trazer imensos prejuízos e beneficiar pessoas mal-intencionadas. Isso nos leva a outro questionamento: como regulamentar esse uso? Como filtrar o que está sendo produzido?
A inteligência artificial chegou para ficar e está, a cada dia, se tornando cada vez mais utilizável e parte do nosso dia a dia. A forma como iremos lidar com essa ferramenta ainda vai acarretar uma série de discussões. De todo modo, como diria a sabedoria popular, a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, e com as IA não parece ser diferente.