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Mônica Porto Apenburg Trindade
Doutora em História Comparada pela UFRJ. Profa. Adjunta I da Faculdade Pio Décimo. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
E-mail: [email protected]
Raphael Ricardo do Amaral Bandeira Santos
Graduando em Psicologia pela Faculdade Pio Décimo.
E-mail: [email protected]

Refletir sobre o tempo e como este influencia significativamente o curso de nossas vidas se constitui em um exercício que os seres humanos realizam constantemente, sobretudo, quando se aproximam as festas natalinas e as confraternizações de final de ano. Nessa época somos instigados pelo próprio curso do tempo a revisitarmos o ado na tentativa de “percorrermos mais uma vez pelos caminhos”, às vezes tortuosos e pouco nítidos em relação ao futuro, objetivando uma espécie de acerto de contas consigo mesmo e com o nosso ponto de chegada nessa caminhada: o presente.
O presente é o único recorte temporal no qual o ser humano encontra-se de maneira concreta no sentido de refletir, questionar e partilhar visões de mundo semelhantes com aqueles “seres de carne e osso”, ou seja, com aqueles que são contemporâneos a ele, como diria o historiador francês Roger Chartier (1945-). É no presente também, segundo Luisa erini (1941-), onde os sujeitos têm a possibilidade de posicionarem-se contra o ado e o futuro juntos, resultando numa lacuna enquanto campo de forças gerado pelo esforço do homem para pensar.
Perante tal constatação, as reflexões acerca do tempo, oriundas das festas de agem do ano, colocam os sujeitos, que estão no presente, diante do sentido dialético onde a nostalgia e o desejo da superação do ado, ou mesmo da esperança perante o futuro iminente confluem em simultâneo à resistência diante da própria efemeridade do tempo.
Seja como for, tanto o experenciar quanto o pensar sobre a agem do tempo não se constitui como algo tranquilo, cujo olhar humano segue atento e ivo diante da inevitabilidade de um ado finito ou de um futuro indefinido. Refletir acerca da agem do tempo é compreender que o presente não é um mero intervalo, fugaz e instantâneo. O presente é o tempo das possibilidades, do oportuno, das permanências, mas também das rupturas.
Por isso se faz importante adquirirmos a consciência de que quando voltamos o olhar para o ado e achamos nele algo que possa nos condenar, não devemos cair em desespero, pois o presente e o futuro têm como essência a possibilidade. Sem isto, o que foi não poderia ser substituído, não digo apagado, porque o que foi lançado não se pode rebobinar. Já que a trama da vida é o executar, façamos e refaçamos, se preciso, rasguemos e não nos apeguemos, as contingências são infinitas no curso dessa realidade.
Desse modo, finda-se mais um ano e cá estamos nós, outra vez, inscritos no registro do tempo, assentados, como diria Ivan Domingues (1996), “na caducidade das coisas, e também no registro do eterno”, sempre em busca de abrigo para refletirmos, ressignificarmos nossas ações e (re)construirmos nossas histórias no tempo e no espaço. Bonito, é ver um ser, um alguém, velejando de forma suave, nesse barco chamado vida.
Para saber mais:
Chartier, Roger. A visão do historiador modernista. In: Usos e abusos da história oral. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. pp. 215-218.
Domingues, Ivan. O fio e a trama: reflexões sobre o tempo e a história. São Paulo: Iluminuras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. pp. 17-19.
erini, Luisa. A “lacuna” do presente. In: Usos e abusos da história oral. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. pp. 211-214.